É pá, se há coisa que me incomoda, é cruzar-me com pessoas “mortas”.
É isso mesmo, “mortas”, porque não quero acreditar que alguém vivo e com um olfacto normal, consiga chegar ao ponto de cheirar tão mal que quase mata os outros por intoxicação.
De vez em quando cruzo-me, ou atendo gente um pouco
mal-cheirosita. No gabinete onde trabalho existe sempre um ambientador do ar pronto a entrar em acção, após a saída de alguns clientes que insistem em deixar para trás um pouco de si.
Agora nos transportes públicos o que há a fazer? Nada. Não é muito viável trazer o ambientador na mala e começar a pulverizar uns e outros furiosamente, embora apeteça.
Hoje apanhei um autocarro que transportava pessoas esverdeadas e com ar enjoado, devido a um forte cheiro a putrefacção que pairava no ar. Até pensei para com os meus botões, querem ver que ainda estou a dormir e a ter pesadelos com mortos-vivos!?
Mas não, estava bem acordadinha e o cheiro estava mesmo ali a entrar-me pelas narinas, proveniente de um sujeito que se fazia transportar com o ar mais descontraído do mundo, mas que certamente não devia tomar banho nem mudar de roupa há uns seis meses, no mínimo Esta é a terceira vez que apanho alguém assim, até têm um aspecto normal (não estamos a falar de pessoas sem-abrigo), mas com um cheiro de tal forma intenso que lembra animais em decomposição.
Não paro de questionar-me como é isto possível, como é que alguém chega a este ponto e continua descontraidamente a misturar-se com outras pessoas!?
Lembro-me nitidamente da primeira vez que vi (cheirei) um ser destes. Foi precisamente há oito anos atrás. Estava emprestada na sede da empresa e fazia atendimento numa sala ampla com várias secretárias, onde trabalhavam outros colegas. Naquele dia o próprio chefe estava por lá a dar umas directrizes ao pessoal. De repente entra porta adentro aquele sujeito, com um ar normalíssimo mas acompanhado de um cheiro nauseabundo. Oh meus amigos, garanto-vos que a sala ficou vazia numa questão de segundos, aquilo foi mais rápido que uma simulação de incêndio. Fiquei lá eu e outra colega, a atender o senhor o mais rapidamente possível e a abrir portas e janelas, para que a corrente de ar desanuviasse o ambiente.
Pensei que fosse caso único, até que passados uns anos voltei a cruzar-me com outro sujeito semelhante num autocarro da Carris e hoje no autocarro lá da minha banda.
Não entendo. Portanto só consigo chegar à conclusão, que esta gente já morreu e ainda não deu por nada, só pode...
Por favor, alguém lhes mostre a direcção da luz*, para que possam deixar de deambular eternamente entre nós.
* A luz até poderá ser algo tão simples como um chuveiro e uma barrinha de sabão azul e branco. Digo eu...