Afinal, existem pessoas, ou etiquetas que criam pessoas?
Qualquer dia passo a desdenhar do velho adágio do ovo e da galinha e vou querer saber se a dita cuja nasceu da etiqueta ou a etiqueta nasceu dela.
Porque estou em querer acreditar que nos tempos que correm, para uns e outros, se a porra da galinha, não tiver nascido com um sobrenome, do género (de Vasconcellos e Albuquerque), nunca tiver calçado uns louboutin , vestido uma roupita Chanel ou aprendido a falar com aquele estilo (tà a ver!?), nem tão pouco é uma galinha.
Sou apenas uma pessoa que gosta de pessoas. Não interessa o género, porque para mim a coisa já se apresenta naturalmente simplificada, a partir do momento em que todos sabem distinguir uma pessoa de um animal (que não merece menos consideração) ou de uma planta.
Portanto, pergunto eu, porque terei de tratar os meus amigos ou conhecidos de maneira diferente, quando estou com outros amigos ou conhecidos, para que os primeiros não se sintam mal em detrimento dos segundos!? Ou no meu local de trabalho terei que olhar com um olhar desconfiado para alguém, que não se apresenta segundo os padrões convencionados pela sociedade!?
Nunca fui dada a essas merdas de separar o trigo do joio, porque infelizmente, nunca soube distingui-los e ainda bem. E segundo parece, sempre tive (e pelos vistos continuo a ter) uma certa tendência a misturar-me mais com o joio.
E mais uma vez, volto a repetir, ainda bem. Tenho aprendido lições de vida fantásticas. Para além da minha tendência natural, arranjei um gajo ainda “pior” do que eu, que me ensinou que o importante, não é o aspecto mas sim o coração e alma que se encontra por baixo desse primeiro impacto visual.
Exemplos práticos:
Sábado á noite, zona dos bares da cidade. Gente e mais gente nas ruas, estacionamentos cheios. Acabo por conseguir estacionar no único local vago, mas fantástico, sitio perfeito, demasiado perfeito , até que percebi o porquê. Mesmo ao lado, Punk daqueles mesmo punks com uma crista de meio metro pintada de uma cor fluorescente, acompanhado pela namorada gótica com ar de sobrinha da família Adams. Ela estática com ar desalentado, ele atarefado a tentar mudar um pneu do carro.
Resultado: O meu gajo salta do carro assim que acabo de estacionar e pergunta se necessitam de ajuda. E eu juro que nunca na minha vida tinha vislumbrado um ar de alívio tão autêntico como aquele.
Conclusão: Conhecemos um casal super simpático, que já ali estava á cerca de meia hora, porque percebiam tanto de mudar pneus como eu percebo de renda de bilros, e não tinha havido uma alminha caridosa que tivesse tentado ajudar. Não eram da zona, tinham vindo apenas para beber um copo num dos bares mais badalados da zona velha da cidade, para quem gosta de música da pesada, e onde gente chique não entra. E onde fizeram questão de voltar para nos pagar um copo.
A amiga que ia connosco, um pouco mais recatada, mas sempre mortinha pela aventura e pelo desconhecido, não parava de dizer “ É por estas e por outras que eu gosto de vos acompanhar. Realmente, só vocês. Quem mais parava para ajudar esta gente?” A isso eu só posso responder: “Qualquer pessoa sem preconceitos".
Outro exemplo, é e será sempre o meu amigo “qué frô”, como todos o conhecem. Para mim ele é apenas outro ser humano, que merece tanto estar neste planeta como qualquer outro. Como tal, há cerca de sete anos atrás defendi-o por duas vezes, de pessoas estúpidas que apenas tentavam gozá-lo e até roubá-lo.
Resultado: a partir dessa altura, este desconhecido tornou-se meu amigo, tivemos oportunidade de falar, sei o nome dele (coisa que ninguém sabe nem se interessa) e várias coisas sobre a sua vida e o seu país. Desde essa altura cada vez que se cruza comigo, oferece-me uma rosa e fica ofendido se eu não aceito. Quando não me encontra a mim mas se cruza com o meu marido, faz questão de enviar a rosa por ele, perguntando sempre (como está mulher e criança?).
Tenho uma amiga de longa data, daquelas mesmo amigas, do género amiga mais amiga não há. Mas acabamos sempre por discordar nesta situação. Quando vamos jantar fora e este meu amigo “qué frô” aparece, ela passa-se e diz-me sempre algo do género (Só tu, para te dares com este tipo de gente. Vá, tenta fazer de conta que não o viste, pode ser que ele passe ao lado sem parar. Qualquer dia deixo de jantar fora contigo. Só me fazes passar vergonhas).
E agora pergunto eu, qual a diferença!? Não são ambos seres humanos?
Último exemplo:
O meu gajo é empregado de bar. Faz vida nocturna há anos e acabou por me fazer apaixonar também por esse tipo de vida, a qual ,eu abracei durante algum tempo todos os fins de semana em forma de trabalho/divertimento (enquanto não fui mãe). Acabei por conhecer todo o tipo de gente, até porque mesmo ao lado, existia um espaço jovem patrocinado pela câmara municipal, onde todos os sábados havia concertos de bandas de garagem. Putos vestidos de preto, cobertos de piercings, tatuagens e correntes, cabelos no ar e adornados com as coleiras dos respectivos cães e gatos.
Resultado: Putos fantásticos, educados, que pediam se faz favor e respondiam obrigado quando recebiam o pedido efectuado. Putos que fizeram questão de me oferecer algumas das “coleiras” como recordação, (as quais eu até hoje guardo com todo o amor e carinho), apenas porque eu os tratava com simpatia e igualdade. Bem como o meu marido tem t’shirts, algumas únicas, despidas na altura e entregues em sinal de agradecimento pelo acolhimento e carinho demonstrados.
Conclusão Final: O ser o humano não é o invólucro carnal que apresenta, mas sim a alma que vive dentro dele. E esta alma poderá revelar-se facilmente, perante um simples sorriso de simpatia.
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