sábado, 2 de outubro de 2010

Pessoas fantásticas

Esta menina, escreveu um post no dia 30/09, que mexeu com os meus sentimentos mais profundos e ao qual não consegui ficar indiferente.

 Esta é uma situação que observo no meu dia a dia e que nunca consegui contornar, porque sempre me alterou o sistema nervoso. Esta é a situação que obrigatoriamente me irá expor porque é uma situação à qual não consigo ficar indiferente. Esta é a situação que me fará pôr fim ao meu anonimato, porque eu pretendo que toda a gente conheça a realidade latente no ser humano que nos rodeia.


O post, em questão, veio precisamente de encontro ao meu do mesmo dia, que escrevi de uma forma enigmática para que cada um tirasse as suas ilações, sem entenderem ao certo ao que eu me referia ou percebessem quem eu sou.

Hoje vou explicar tudinho.

Imaginem alguém preso debaixo de um comboio. Atirou-se? Caíu? Está vivo, morto? Ninguém sabe, estas coisas acontecem sempre naquela fracção de segundo em que ninguém está a olhar. Na altura isso também não interessa nada, há que cumprir com os procedimentos inerentes à situação “Ser humano preso debaixo de um comboio”. Pára tudo. O comboio não mexe nem mais um milímetro. À que chamar uma grua, a PSP, o INEM e os bombeiros. E até a situação ser devidamente resolvida, nada mexe, ou seja aquela linha fica parada até normalização completa do cenário. O que depende desse mesmo cenário. É assim, se o sujeito não morreu (ás vezes uma pessoa tem tanto azar na vida que nem o suicídio lhe corre bem), a coisa até é minimamente rápida. Se o sujeito morre está tudo lixado. Aí há que chamar o médico legista, porque um corpo não pode ser removido sem o parecer do mesmo e estes senhores são sempre umas pessoas extremamente ocupadas, daí que quando conseguem chegar ao local duas horas depois da chamada a malta ainda agradece com vénias e efusivos “Obrigado pela sua celeridade doutor”.

Até aqui tudo na conformidade, certo? Errado….

Eu sou aquela que trabalha naquele gabinete que diz ser do cliente e onde o dito cliente se acha sempre dono e senhor da razão, seja qual for a questão que o atormenta.

Portanto, vamos lá tentar explicar que a circulação está parada devido a uma queda ou suicídio.

Mais uma vez parece fácil, certo? Errado….

Estas situações fazem sempre emergir o que de pior existe no ser humano e que no fundo de tão ridículo até chega a ser engraçado por parecer inverosímil perante o comum dos mortais.

Para além do típico reembolso dos bilhetes, os quais a Empresa se prontifica de imediato a trocar, existem sempre os típicos contestatários.

Se lhes dão outro bilhete, não lhes faz falta porque não pensam voltar a viajar, se lhes devolvem o dinheiro é porque estão a gozar com eles, porque neste momento já estão tão atrasados que precisam de apanhar um táxi e a quantia apresentada não chega nem para fazer parar o dito cujo.

E é neste ponto que os verdadeiros seres humanos se começam a revelar.

Exemplos simples:

. Ouça, nem quero saber o que se passa. Quero é chegar ao meu destino rápidamente e você vai ter de arranjar maneira de me resolver o problema.

. Olhe, eu não quero saber se alguém está preso debaixo dum comboio, isso é problema seu, neste momento quero é saber como é que você vai resolver o meu problema de deslocação

. Tenho um amigo meu preso numa carruagem em plena galeria já há dois minutos. Ele está a ficar claustrofóbico e com falta de ar. Portanto se há um suicida debaixo do comboio, caguem no gajo e cheguem o comboio à frente para que os outros possam sair. Se está morto ou vivo??? Isso é cagativo, se o gajo está lá é porque queria morrer, só estão a ajudá-lo, a ele e ao resto do pessoal que quer é bazar dali para fora.

Estes são pequenos exemplos do meu trabalho diário, perante o meu típico cliente que acha ter sempre razão independentemente das circunstâncias.

Perante isto, acho que devo continuar a insistir na máxima: Ele há pessoas fantásticas, não há!?

3 comentários:

  1. Há pessoas burras e estúpidas, por pensarem dessa forma. Já se puseram a pensar no que aocnteceu a essa pessoa para estar debaixo do comboio. Há 8 anos atrás, perdi alguém muito importante da minha vida debaixo de um comboio. É claro que ele não queria lá estar debaixo e muito menos "prejudicar" os clientes que viajavam no comboio. Uns "amigos" (não encontro um termo concreto) atiraram-no de proprósito para ele ser atropelado pelo comboio.
    E essas pessoas deveriam pensar, que por vezes quem é atropelado até pode ser familiar, amigo ou seu conhecido.
    Só quem passa pela dor de perder alguém assim tão novo de forma trágica, dá valor à dor que se sente, à angústia de saber se é verdade se é mentira, se está vivo ou morto, se sofreu ou não...

    Mil pétalas...

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  2. O link não dá para ver quem é a menina, mas pela discrição acho que sou eu mesmo... :S

    Tenho consciência que alguns posts que ponho fazem algumas reacções, no entanto sinto muito quando são negativas derivado ao tema, mas são a realidade, enfim...

    Tu és mais uma prova viva que situações dessas é usual e é tão surreal que começo a acreditar que estamos a virar máquinas!

    Beijo

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  3. Belladonna, que respostas tão insensíveis. Deves ficar com um amargo de boca a atender pessoas assim que afinal somos todos nós e o nosso umbigo (isto sou eu a pensar alto).
    Beijinhos

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