quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Noção de limites

Sou obrigada diariamente a fazer duas viagens de barco, casa/trabalho, trabalho/casa. Uma obrigação que se pode transformar num verdadeiro frete se não soubermos tirar partido da situação. Resolvi então, transformar essas travessias no meu bocadinho de sossego, aquele momento só meu, onde embalada pelas águas do Tejo me perco nas páginas de um livro, ou nos meus pensamentos, naquela lassidão de quem vive um momento só seu.

Ora, devido à falta de noção de limite, espaço, respeito… aquilo que lhe queiram chamar, o meu calmo cruzeiro tem vindo a transformar-se numa Barca do Inferno.
Alguém me ponha a par das modas por favor, porque se calhar sou eu que estou ultrapassada. Ora digam-me lá, os auriculares passaram de moda? estão out, demodé, ou outra porra qualquer que eu não saiba???
Oh meus amigos, não sei o que se passa, mas desde há umas três semanas para cá parece que toda a gente entrou numa ânsia de partilha desenfreada. A primeira vez foi um rapazito Indiano, que entrou barco adentro com o telemóvel aos berros entoando um som muito próprio, estilo rock indiano. Da segunda um rapazito luso (bué da moderno, na onda do yah meu tá-se bem) a ouvir hip-hop também com o som no máximo, não fosse alguém perder pitada. À terceira um grupinho de meninas africanas a curtir o bom do Kuduro , enquanto cacarejavam alegremente. E quando eu pensava estar dentro de um mau anuncio da Benetton , mas a dar um certo desconto devido à idade dos intervenientes (embora isso não seja desculpa). Tcharan, surpresa.
Uma noite, entro no barco cansadíssima depois de um dia de trabalho, desejando ardentemente os meus minutos de paz. Tudo parecia correr pelo melhor até surgir uma septuagenária que se senta ao meu lado. Não liguei, até porque esta malta costuma ser calma. Ah pois é, a dita senhora mal se senta, saca da bíblia e de um telemóvel já um pouco ultrapassado e meus amigos, gramei com vinte minutos de música religiosa, roufenha, enquanto a senhora folheava a bíblia e carregava no botão rewind cada vez que a música terminava. Foi fantástico, uma verdadeira viagem... abençoada.
E quando eu achava que já tinha visto de tudo, ontem fui agraciada com uma música diferente. Uma lady na casa dos quarentas, resolveu colocar o telefone em alta voz, para ir limando as unhas enquanto falava. Mais uma vez, auricular? O que é isso?
Hilariante, todo o barco ficou a saber que aquela história dela andar a dormir com o primo é pura difamação.
E agora pergunto eu. O que é isto? Onde é que termina a noção de limite e de respeito pelo próximo e começa a lei do cada um por si?
Meus queridos companheiros de viagem, por favor, comprem a porra duns auriculares e guardai para vós, os vossos gostos musicais, as vossas crenças e religiões e principalmente as vossas vidas. A malta não está interessada em partilhar coisíssima nenhuma, principalmente por imposição. Estamos entendidos, ou vou ter de chatear-me a sério???

15 comentários:

  1. Querida Belladonna, o que tu nos mostra do mundo moderno!? Então, agora a nova moda é andar a ouvir música, aos altos berros?! E não se podem exterminá-los?
    É que dava muito jeito uma nova moda a lançar no facebook, de um novo modelo de MP5 ;)
    Beijinhos e coragem :)

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  2. Credo!!! Quando andava de comboio punha os auscultadores, nem que fosse sem nada, só para cortar sons de fora e me poder concentrar no livro. Agora que ando de carro leio muito menos :( O que se ganha numas coisas... Bjs**

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  3. Belladonna
    Eu interrogo-me muito...sou ignorante? Sou antiquada? Não sou nada porra! Esta juventude é que está na moda actual a qual não tenho nada contra desde que respeitem os outros, por acaso esses jovem não vestem calças abaixo do cú e de perneiras de rojo pelo chão? é que aqui na Marinha Grande andam com o cú à mostra. Bom amiga tens que ter fél para os aguentar.

    Beijinho

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  4. Pois é........depois de te ter lido é que me dou conta do quanto as minhas viagens para o trabalho são tão relaxantes: percurso a pé (mantém a linha) e com uma duração de 10 minutos.Uns breves bons dias e...trabalhinho.Abençoada a minha terrinha.
    Beijinho e FORÇA para essa travessia.

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  5. Tenho cá uma ideia que a minha paciência tinha limites,agarrava naquela mer*da e punha por agua abaixo,antes dizia-lhes alguma coisa,eu sou tolerante,mas...não abusem. Fazia como o outro do telemóvel na escola,uma vez,duas vezes e...pumba!!!

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  6. Agora não, mas durante muito tempo os meus percursos casa/trabalho/casa eram realizados de autocarro e/ou comboio. Nunca dei tanto valor aos meus phones. Colocava-os logo que entrava, e aí sim, podia ler, pensar na vidinha, transformar o mundo que ne rodeava numa oportunidade de estar de mim para comigo.
    Quando não podes mudar o mundo, ...
    Beijos muitos

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  7. É complicado ter que partilhar o mesmo meio de transporte com pessoas que não respeitam o espaço delas. E se é a melhor forma de nos fazermos transportar, por n motivos( Poupança da carteira e do meio ambiente, também é preciso ter alguma dose de paciência e sorte, com o que nos aparece à frente. Já me fiz transportar de várias maneiras para os meus locais de trabalho. De carro, podemos estar sujeitos a filas intermináveis mas tem a vantagem de pelo menos ser só nosso e não termos que o dividir com mais ninguém. Nos últimos anos, usei muito o barco e metro como meio de transporte e a minha forma de gerir isso fácilmente, é ser a última a entrar e a última a sair, bem como afastar-me de quem me incomoda. Sim, sou pessoa para me levantar de um lugar para outro, se alguém me incomoda ou com músicas, ou com cheiros ou seja lá com o que for.

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  8. lol hilariante
    o que eu me ri com a senhra a orar ...muito bom
    Belladona pensa no lado castiço da coisa, sempre tens umas historias fora de serie para contares, tens de escrever um livro sobre as tuas memorias no barco hihih
    bjinhos e conta até 10

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  9. Também me costumo cruzar com pessoas de hábitos semelhantes, mas até usam auriculares, o que não invalida que o som esteja igualmente alto! Não sei como alguém consegue ouvir música da qual só se ouve puntz puntz puntz tão perto dos ouvidos e com aquele volume...
    Obrigada pelo comentário lá no meu estaminé!

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  10. Incrivel, mas passo por isso todos os dias e fico me perguntando se alguém já resolveu escrever um artigo, uma tese, um trabalho sociologico sobre o mesmo, pois me aflige, e muito! Muito bom!
    Bjs*

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  11. Risos...existe o barco do amor! Este que vais e vens todos os dias é o barco dos tolinhos!! :-O

    Beijos

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  12. Essa moda já anda na "Carris" há 3 anos. Raios! É que é sempre música "duvidosa".

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  13. Também tenho esse problema nos autocarros. Parece que a moda é o kuduro. Já pensei e ir ao chineses e comprar um stock de phones para oferecer por aí. Há certas pessoas que não têm mesmo noção. Acho que devem achar cool mostrar o que ouvem...

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  14. não consigo parar de rir...alias chorar a rir.

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