sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Discriminação e preconceito

Como já disse por várias vezes, o preconceito é algo que me tira do sério. Não gosto, não admito, acho feio, desprezível e muito revelador da falta de carácter e cultura de determinados falsos moralistas.


Ontem houve reunião de pais, uma sala cheia de desconhecidos. Consequentemente, um ambiente interessante para quem, como eu, gosta de observar, escutar e analisar.

A escola é pública, logo uma panóplia de raças, etnias e estratos sociais. Acho óptimo, a vida é mesmo assim, mistura-nos e mostra-nos as diferenças e as semelhanças de cada um, mas principalmente tenta mostrar-nos que somos todos seres humanos o que nos distingue dos animais. Infelizmente há quem teime em ignorar esse facto e optar apenas pelas aparências.

Fiquei com umas impressões fantásticas de certas mamãs benzocas, aquelas que olham com ar de desdém para a mãe cigana que entra na sala, mas que aparentam ter comprado a roupa e os sapatuchos a alguém desta mesma etnia. Aquelas que insistem em interromper e em falar mais que os outros, apenas para atirar “postas de pescada” descabidas e sem nexo. Aquelas que do cimo dos seus saltos altos da feira, tentam aparentar aquilo que gostariam, mas que nunca conseguirão ser. Pessoas com personalidade.

Enfim, à conta destas meninas a reunião prolongou-se por duas horas enfadonhas e enjoativas, onde só me apetecia perguntar se podia ir lá fora vomitar. Às páginas tantas a mãe cigana teve de ausentar-se e talvez coincidência, não vá alguém dizer que eu tenho maus fígados, logo de seguida uma benzoca puxa o assunto dos piolhos. Foi um momento erudito. Aí, apeteceu-me pedir licença para lhe saltar para cima e espetar-lhe os dedos nos olhos.

A senhora foi informada pela educadora que sim, os piolhos continuam em toda a escola e também na sala embora os casos sejam relativamente poucos. Passou-se, segundo ela: «É uma irresponsabilidade misturar as crianças, como tal, deveriam ser separados, colocados a um canto da sala e obrigados a usar touca, ou melhor ainda, afastá-los da escola para não propagar o flagelo». Eu juro que me torci e retorci na cadeira, contei até dez, até vinte, cerrei os dentes e medi todos os prós e contras para evitar abrir a boca. Não gosto de peixeiradas, tento evitá-las ao máximo, porque nestes momentos tenho medo de mim. Quando sou obrigada a tirar a faca da liga, oh, meus amigos, já não há volta a dar, a minha língua solta-se e nunca mais entra na boca.

Então tinha estado esta “senhora” anteriormente a falar de bullying e a culpar a televisão de toda a má educação infantil, para a seguir se sair com uma pérola destas!?

Só me apetecia gritar-lhe:

«Com que então os piolhos são um flagelo!? Flagelo minha dondoca de merda, é uma mãe não ter comida para dar a um filho, flagelo é ter uma doença incurável, flagelo foi o motivo pelo qual a mãe cigana se ausentou mais cedo, o velório de uma familiar com dezasseis meses acabada de falecer com meningite, um flagelo são pessoas como a senhora que incentivam à discriminação. Se eu lhe disser que o meu filho teve piolhos, aposto que a sua primeira atitude quando chegar a casa, será avisar a filhinha para se afastar dele, não vá o diabo tecê-las. A sorte destas crianças é a discrição da educadora que não cita nomes, senão a esta hora, estariam todas assinaladas por si com a marca piolhoso e escorraçadas por todas as outras crianças com mamãs do seu calibre. O bullying não é instigado pela televisão, mas sim por mamãs e papás com falta de formação como a sua. Os piolhos fazem parte da infância e são apenas piolhos, não são lepra, porra».

Hoje ainda estou enjoada, a pensar na baixeza de certas pessoas e nas palavras que tive de engolir. Mas foi melhor assim, senão a esta hora o meu filho já estaria colocado a um canto e desprezado pelos outros meninos, pois a mamã tinha sido catalogada pelas outras mamãs, como uma arruaceira ordinária.

Adenda: A dita "senhora", armada em boa samaritana, ainda se ofereceu para levar uns frascos de champô, para os mais desfavorecidos (insinuando falta de higiéne). Minha grande burra, se fosse suficientemente informada, saberia que os piolhos são uns bichos espertos e higiénicos que, contrariamente ao que se diz, preferem cabecinhas lavadas.


:(

17 comentários:

  1. Querida Bella, gostei muito deste teu desabafo. Como deves calcular, convivi alguns anos com vários tipos de discriminação. A minha máxima para os encaregados de educação e para os alunos, foi sempre "todos diferentes, todos iguais". Está tudo dito, por ti.
    Beijinhos e bom fim-de-semana :)

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  2. Enfim é só "gentinha" triste e sem dois dedos de testa por esse mundo fora, nem vale a pena chatear-se não vale mesmo.
    Beijinho

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  3. Mas ainda há gente assim? Como é possível?

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  4. Amiga, amei o teu comentário e mais, parabéns por não desceres ao nivel dessa canixe, pois és bem superior a ela.
    Já viste se lhe ias ao cabelo e ainda encontravas a origem da piolhada?
    Afinal de contas, quem já não teve piolhos??????
    sim, porque eles saltam não são lesmas....
    Arre gente burraaaaaaaa....
    Como é que
    Portugal anda para a frente com esta gentinha mediocre...
    Jinhos fofos

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  5. Tás zangada!:)

    A descriminação é a face visível da estupidez! Simples.

    Mas atenção: também não gosto de falsos paternalismos. Do lado "olha os coitadinhos". Ou então aqueles que sendo descriminados usam isso para proveito próprio...Também acontece!


    Cultura Bella. Tudo cultura. Ou melhor: falta de.

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  6. Bem Belladonna estás passada e com razão! Também concordo, mas só acrescento que há bom e mau em todo o lado :/

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  7. Adorei o texto, aliás como sempre. Tenho uma forma de pensar muito semelhante à tua.

    E mais acrescento flagelo é uma criança de 8 anos andar 2 km a pé para ir para as aulas e ter baratas na mochila porque infelizmente mora numa barraca.

    Tomara muitas mães gostarem tanto dos filhos como algumas ciganas que já vi.

    Bjs

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  8. Bella

    Não me vais dizer que essa senhora é a mãe da chavalita que o teu piolhito andava a fazer a corte. Essa seria para aumentar o teu mau estar. Agora falando sério os piolhinhos fazem parte, na escola do meu neto não andam crianças de "raça cigana" e ele também os apanhou na escola, é isso faz parte mais nada.
    Beijinho

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  9. Concordo totalmente quando dizes que o bullying é também instigado por pais preconceituosos e mal preparados para viver em sociedade! Sempre aprendi que quem dá o pão, dá a educação e que devemos sempre dar o exemplo! Se damos maus exemplos, não podemos estar à espera de que as gerações vindouras sejam melhores!
    http://amarycanlife.blogspot.com/

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  10. A senhora foi deveras parva! Não estava na reunião para saber da situação.
    Mas é melhor falarem e percebermos que a discriminação e o preconceito existe do que fazer de conta que não se passa nada.

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  11. enfim...a gentinha assim! merecia ouvir aquilo que pensaste, sem dúvida!

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  12. Como adorei...já milhetas vezes nesta minha curta mas produtiva caminhada como teacher deparei-me com situações de descriminação por parte dos próprios alunos que depois de questionados diziam:" Foi a minha mãe que disse-me para não brincar com X ou para não emprestar a Y" e isso irrita-me e muitas vezes tenho que ir até à secretária acalmar-me para não mandar nenhum recadinho menos própria ao educador (se é que o posso chamar assim!)

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  13. flagelo é fazerem-se de coitadinhos terem tudo de borla: casa, escola para os filhos e t ainda subsidios e se os mandarestrabalhar dizem-te que trabalhos tu. E que ´~ao badalhocos e porcos e calões a pois são mas depois existe gente como tu que ainda acha que eles são coitadinhos mesmo que pagem um mercedes em dinheiro vivo como eu já vi.

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  14. Não sei se ficar mais espantada com o facto de haver quem se levante cedo para dizer barbaridades, ou com o facto das vir dizer por detrás do anonimato.
    Muitos parabéns! Adoro o teu blog.

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  15. Obrigada pela força =)
    Bom fim de semana !!
    Beijinhos!

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  16. é mesmo ignorância...só pessoas burras é que pensam que os piolhos aparecem por falta de higiene!
    Sou educadora e no ano passado também levei com eles e sabes porquê? Porque mesmo sabendo as crianças que os tinham nunca lhes deixei de dar um colo, um mimo, um abraço...custou a sair mas não morri!!

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  17. Eu desisti de ir às reuniões do meu filho precisamente porque não tenho paciência para estar 2 horas a ouvir os Pais falarem dos feitos dos seus rebentos e estarem constantemente a interromper a reunião para falar de coisas que não aquecwm nem arrefecem. ACabo por falar com a professora nos dias em que recebe os Pais.
    Na sala do meu filho , há uns paizinhos que chegam ao cumulo de se vestir a rigor e ir ao cabeleireiro, só para irem à reunião. Não há paciência.Beijo

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